quarta-feira, 22 de junho de 2011

Metabolismo social e homofobia

A sociedade está em constante mudança, sempre em evolução ou retrocesso, havendo conquista de direitos, perda de direitos, descobertas científicas, catástrofes ambientais, mudança de ideias, revoluções, e assim vai, tudo sempre em movimento...É simplesmente a história.

Não só o Brasil, mas também o restante do mundo tem passado nos últimos tempos por significantes mudanças no que se refere aos direitos da parte homossexual da população.

Neste ano, o Supremo Tribunal Federal tomou duas iniciativas radicais e progressistas, uma delas foi a não-extradição de Cesare Battisti (italiano e militante comunista da década de 70), e outra foi o reconhecimento da união estável homoafetiva, a qual é o tema da presente postagem.

Há uma corrente de defesa dos direitos dos homossexuais crescente em todo o globo, a qual ganhou força principalmente com o início deste novo século, e obviamente o Brasil mais dia menos dia, mais ano menos ano, seria avassalado por esta "onda".

E porque isso? Porque só agora em 2011 os homossexuais tem adquirido direitos que antes não existiam?

É preciso lembrar que há muito tempo o homossexualismo já foi, de certo modo, costume de vida; me refiro ao período helênico, aos gregos e sua cultura.
Naquela época as melhores famílias tinham integrantes gays, nos destacamentos de homens armados, ou em outras palavras, nos exércitos, o homossexualismo era natural. Muitos jovens, integrantes da elite, tinham sua iniciação sexual/rito de passagem realizado com o mestre particular, também chamado de professor, fato chamado de pederastia. A própria literatura mencionava abertamente não só o homossexualismo, mas inclusive a prática homossexual (vide Sófocles).

Não obstante, o homossexualismo era difundido não como um direito, nem como "luxúria", mas como costume tantas vezes com caráter social e artístico.

Mas tudo muda, ou melhor, quase tudo... A história prosseguiu, e com isso os costumes mudaram. O helenismo ficou para trás, a idade média ficou para trás (mesmo algumas ideias medievais existindo até hoje), a idade moderna também ficou para trás...

Agora é 2011. Novos tempos. Novas ideias. Novos costumes. Não digo que o passado não nos determina, pelo contrário, somos muito mais o passado do que podemos imaginar (herdamos inúmeras características antigas, medievais, modernas, etc.), contudo, existem novos costumes.

É preciso lembrar das palavras de um velho sábio, que sempre se mostra com a razão:

"...the bourgeois economy did not mythologically identify itself altogether with the past, its critique of the previous economies, notably of feudalism, with which it was still engaged in direct struggle, resembled the critique which Christianity leveled against paganism, or also that of Protestantism against Catholicism."


Não estamos mais na idade média e mesmo assim a religião cristã-ocidental ainda influencia as regras do jogo, e muito!
A maioria das pessoas contra os direitos homossexuais são fanáticos religiosos que vivem sob a inspiração constante do Espírito Santo, e se reconhecem como a voz de Deus. Parece piada, mas infelizmente não é.

Afirmo que deve ser sim defendido o direito religioso, deve ser defendido o direito de que pessoas possam seguir a crença que achem correta, mas dentro de limites.

A bancada evangélica e da família no congresso nacional tem se esforçado muito para mutilar os direitos da mulher e dos homossexuais. Para estes políticos, homossexuais e aborto são coisas do diabo, capazes de corromper uma sociedade inteira.
Tais pessoas representam o pensamento da camada mais machista e atrasada da sociedade. Para eles homofobia é filosofia de vida.

Não digo que a liberação do aborto e do casamento gay irá salvar a humanidade de todas suas mazelas. De modo algum.

O fato dos gays conseguirem mais direitos, e das mulheres terem reconhecido o direito ao aborto, não altera a correlação de forças político-econômicas da sociedade capitalista em que se vive.

A liberdade religiosa, a liberdade sexual, o direito ao aborto, mesmo tendo aparentemente caráter revolucionário, não vão muito longe, pois não afetam o domínio da classe dominante.
A conquista de tais direitos, é uma tarefa democrática-burguesa, é tarefa possível de ser realizada na sociedade capitalista.
Para a burguesia, a união estável homoafetiva não é uma ameaça, e pelo contrário, é necessária a sua regulação (por ter principalmente base econômica).

Uma mudança concreta, ou melhor, uma mudança radical na sociedade só ocorre com uma revolução que altere sua estrutura e desenvolvimento, seu próprio metabolismo social.

É preciso encorajar a luta por esses direitos, mas não se pode se iludir com eles.

A burguesia só permite o que lhe é conveniente e não vai contra sua natureza social.



Continua em outra oportunidade.

2 comentários:

Paulo Narciso disse...

Excelente poster.
Parabéns!!!!!!!!!!

.Luks disse...

Obrigadão Narciso!

É sempre bom ver seus comentários por aqui...